O que o Compliance Officer precisa fazer em tempos de crise – Artigo 1: Estruturar
Nosso sócio-diretor Wagner Giovanini publicou o artigo de número 1, de uma série de 5, com o tema “O que o Compliance Officer precisa fazer em tempos de crise – Artigo 1: Estruturar”. Confira também os próximos artigos da série.
Em todos os lugares, em qualquer hora e sobre qualquer assunto, o profissional de Compliance tem a obrigação de prezar pela ética, integridade e honestidade, seja nas suas ações, atitudes ou recomendações transmitidas aos outros. Aliás, isso deve ser parte de seus princípios e, portanto, tal obrigação transforma-se numa rotina inconsciente no seu cotidiano.
Em tempos de crise, essa prática fica ainda mais exposta e, por essa razão, multiplicam-se os cuidados essenciais para um Compliance Officer diligente. Além do habitual, nesse momento, ele deve assumir papeis ativos, usando a proatividade e ações inovadoras, para adicionar valor à empresa, a seus colegas e ao Mecanismo de Integridade.
Contudo, implementar medidas com ansiedade, sem discernimento, ordem e planejamento, implica numa grande probabilidade de insucesso, falta de efetividade e perda de recurso.
Por isso, decidi escrever um conjunto de artigos para compartilhar o resultado da minha vivência em muitas situações de grande tensão, quando eu estava à frente do Compliance na Siemens – América Latina. Apesar de enfrentar circunstâncias diferentes, nas causas e magnitudes, há um aprendizado bastante útil a ser aplicado agora.
Assim sendo, o presente artigo versa sobre como o Compliance Officer deve encarar a situação, para poder estabelecer os seus próximos passos. Esse foi o ponto de partida para eu elencar 10 medidas gerais, a serem abordadas a partir do artigo 2, num total de 5. Eles serão publicados a cada dois dias e, dessa forma, você terá acesso, em breve, ao conjunto completo das minhas sugestões.
Antes, portanto, de listar as 10 medidas, cumpre estruturar o raciocínio. Tal providência permite a cada um replicar essa lógica em seu próprio local. Então, a primeira tarefa do Compliance Officer configura-se em redefinir a sua missão, agora sob circunstâncias adversas. Obviamente, esse entendimento será particular, customizado a sua realidade. Mas, eu poderia expressar assim:
“Dentro das minhas atribuições, agora a minha missão é agregar valor para a empresa e fortalecer o Mecanismo de Integridade, considerando o contexto atual”.
Com isso, ao olhar para o ambiente ao redor, a diferença entre o cenário de hoje e o meu dia a dia será perceptível, ou seja: há outras prioridades à frente do Compliance, inclusive a de sobrevivência; muitas pessoas estão em home office; há caos no mercado, etc.
Conhecendo a minha missão e entendendo bem o cenário, estou apto para identificar os riscos e as oportunidades. De modo simples, posso descrever alguns riscos universais, para o propósito desse artigo, mas, recomendo ao leitor exercício similar, não para validar essa lista, mas, para ajustá-la, de acordo com a sua organização:
• Em situações de emergência, exceções ou flexibilizações podem abrir portas para riscos relativos ao Compliance.
• Funcionários mal intencionados podem se aproveitar da situação para cometer irregularidades (criação de passivo para o futuro).
• Regras podem ser burladas sob o argumento ou justificativa de haver uma crise instaurada.
• Exceções podem se perpetuar na empresa (pós-crise).
• A chama do Mecanismo de Integridade pode se apagar (a retomada é custosa, difícil e nem sempre efetiva).
• A estrutura do Compliance pode ser destruída e jamais ser recomposta.
Onde há desafios, entretanto, há oportunidades. Não se trata de tirar vantagem dos outros, mas um expediente a fim de melhor utilizar os recursos confiados pela empresa para o Mecanismo de Integridade. Logo, a exemplo dos riscos, seguem algumas oportunidades de cunho genérico:
• Demonstrar o valor do Compliance fortalece o apoio futuro.
• Contribuir nas horas críticas trará reconhecimento.
• Utilizar bem o tempo disponível para estruturar melhor o Mecanismo de Integridade terá como consequência gestão e processos com maior qualidade.
• Realizar tudo de forma planejada e bem estruturada criará um círculo virtuoso, iniciando por melhorar a qualidade até obter o maior apoio de todos, como na ilustração a seguir:
Após exercício semelhante, o profissional de Compliance atento e bem intencionado estará capacitado a estabelecer uma estratégia de atuação. Algo como:
• Manter acesa a chama do Compliance.
• Identificar novos riscos peculiares na conjuntura atual e proteger a sua empresa e as pessoas.
• Avaliar o Mecanismo de Integridade e melhorar suas práticas, critérios e gestão.
• “Colocar a casa em ordem”, eliminar pendências e preparar-se bem para o futuro.
• Na totalidade das ações, dar visibilidade ao Compliance, proporcionando a todos reconhecer o seu valor.
Uma visão sistêmica e ordenada vai conferir consistência ao seu plano de ação. Por isso, vale investir um tempo, mesmo pequeno, para repetir o processo aqui exposto. Ele é muito simples, porém, de extrema valia.
No artigo 2, a minha recomendação focará duas medidas que, se não realizadas de forma criteriosa e imediata, o Compliance Officer terá grande chance de falhar na sua missão!
Aguardo você na próxima matéria!
Wagner Giovanini é especialista em Compliance e sócio-diretor da Compliance Total e Contato Seguro. Autor do livro “Compliance – a excelência na prática”, desenvolveu a Compliance Station®, plataforma inovadora para a implementação e execução do Compliance em micro e pequenas empresas. Para mais informações e conteúdos sobre o tema, acesse www.compliancetotal.com.br e https://www.linkedin.com/company/9299759/ .