A importância de investir em Compliance durante a crise
Nota do autor: nesse artigo, Compliance é tratado no seu sentido mais amplo, ou seja, como sinônimo de Mecanismo de Integridade.
A triste realidade atual trouxe um cenário corporativo repleto de desafios, onde as pessoas precisaram conviver e se adaptar a um novo paradigma, como a intensificação do home office, desaceleração econômica, surgimento de novos produtos e serviços enquanto outros desapareceram, progresso das relações no trabalho, renovação das relações comerciais, etc. Por consequência, manifestaram-se lacunas importantes nas empresas, propiciando práticas indevidas, desvios de conduta, irregularidades, ilicitudes.
Naquelas organizações onde o Mecanismo de Integridade funcionava efetivamente, esse sistema contribuiu para a mitigação de tais riscos, oferecendo apoio para vencer as adversidades e reposicionar a organização rumo ao sucesso. Dessa forma, fortaleceu-se como instrumento primordial para a sustentabilidade da instituição.
Por outro lado, quando o referido mecanismo não era efetivo, evidenciou-se a sua inoperância, revelando este ser um fardo no lugar da benesse esperada. Assim, muitos foram os casos onde, acertadamente, a direção optou por destruir essas estruturas. Em vez de contribuir de maneira concreta para os negócios, elas transformaram-se em geradoras de prejuízos, burocracias e entraves desnecessários.
No entanto, a maior parte das instituições nem sequer possuía o Compliance implementado. Além de afastar-se das proteções e benefícios inerentes desse sistema, ficaram ainda mais vulneráveis aos riscos e perigos advindos da presente turbulência.
Nas organizações onde o Compliance foi identificado como inútil, seria insensato atribuir a culpa ao tema. Por certo, o problema encontra-se numa implementação deficiente, na falta de conhecimento, de experiência ou de ambos, nos próprios responsáveis pelo assunto ou até por causa da contratação equivocada de consultorias e/ou pseudoespecialistas, que criaram um mecanismo incompatível com a natureza da entidade em apreço.
Incontestável, contudo, o fato de um Sistema de Compliance verdadeiramente efetivo constituir-se num forte aliado das organizações, seja na crise ou fora dela. Estar bem preparada aumenta demais as chances de uma entidade enfrentar a fase de instabilidade e sair vencedora. Daí a recomendação: implemente já o seu Sistema de Integridade!
Devo implementar um Sistema de Compliance, mesmo durante a crise?
O ideal é construir o seu Mecanismo de Integridade numa situação de normalidade, com a empresa podendo imprimir a velocidade de implementação compatível com os recursos disponíveis e os objetivos almejados. Assim sendo, a dosagem das atividades e rigor no estabelecimento dos processos, critérios e uso de ferramentas alinham-se aos objetivos estratégicos e, desse modo, estabelece-se um Compliance com foco na agregação de valor.
Em oposição, corre-se o risco enorme de implementar um sistema inadequado, caso haja ameaça de agentes externos, por exemplo: revelação de ilicitudes; intimidação por parte de autoridades; reação a possíveis penalidades; exigências contratuais com prazos exíguos; acordos de leniência; pressão de investidores; crises em geral.
Situações dessa natureza influenciam a tomada de decisão, impactam toda a implementação, geram conflitos e, provavelmente, impõem custos exorbitantes. Como dito popular: “paga-se um preço caro por não ter feito na hora certa”.
Por isso, comece o quanto antes! Há benefícios diversos a serem obtidos a partir desse sistema e inúmeros riscos a serem mitigados de imediato. Postergar essa iniciativa só implica em desvantagens!
Ainda desconhecemos como e quando esta crise terminará. Entretanto, de certo, ela vai passar um dia. Porém, outras surgirão. Mesmo fora do âmbito da saúde, várias são as possibilidades: crises institucionais, econômica, política, tributária, trabalhista, de segurança pública, de imagem do país, entre outras. Seja qual for o caso, há impactos diretos no mundo empresarial. Possuir um Compliance efetivo fará enorme diferença e poderá ser o divisor de águas entre a sobrevivência e a total decadência.
Entrar numa crise sem Mecanismo de Integridade equivale a negligenciar a prevenção. Portanto, sua inexistência seria fato consumado e implicaria em dano considerável, restando a convicção em afirmar: a probabilidade de insucesso é grande.
Todavia, para consolidar um Compliance efetivo na organização, o responsável enfrentará questões e desafios que, devido à crise, são agravados. Pensando nisso, preparamos uma série de artigos abordando “O que o Compliance Officer precisa fazer em tempos de crise”. Leia aqui o primeiro artigo da série.